Caminho de Santiago 2014 - 24.04 a 26.04

Caminho de Inverno, feito entre 24 e 26 de Abril de 2014

Mantendo a vontade de não repetir caminhos feitos, este ano escolhemos este caminho que tem cerca de 255km, é pouco conhecido e passa por locais como Las Médulas que são património mundial e os socalcos da Ribeira Sacra, limitada pelos rios Sil e Miño e onde  existem vinhedos dispostos como no Douro.
O inicio do caminho é em Ponferrada e termina em Lallin. A montante é o caminho francês e a jusante o caminho Sanabrês.
Chama-se Caminho de Inverno por ser uma alternativa ao Caminho Francês nessa época do ano, quando havia neve no Cebreiro e o tornava quase intransitável, principalmente para aqueles peregrinos que conheciam mal a região e não levavam GPS J.
Como ainda no ano passado fizemos a totalidade do Caminho Sanabrês, em Laxe vamos subir para encontrar o Caminho Francês, ficando a distância a percorrem em 293km.

Dia 0 - 23.04
Como sempre, partimos no dia anterior para que possamos começar 
o mais pontualmente possível, assim, pelas 19h partimos para Ponferrada num autocarro de 44 lugares que levou 5 bicicletas, as restantes seguiram na carrinha que mais uma vez foi emprestada pelo Jorge.
A viagem foi tranquila e paramos perto de La Rùa para comer uma sande. Chegamos um pouco depois da meia-noite ao hotel El Castillo. A carrinha foi para a garagem, assim como as 5 bicicletas que vinham no autocarro. Já era cerca da 1h da manhã pela hora espanhola e por isso dividimos os quartos e fomos logo descansar.

Dia 1 - 24.04 - Inicio do passeio.
Combinamos tomar o pequeno almoço pelas 8h30m no bar do hotel e depois fomos montar as bicicletas para começar a pedalar pelas 9h30m.
Tiramos a foto de grupo e fomos em direcção ao bonito castelo templário que contornarmos, depois começamos a seguir as setas do caminho mas Ponferrada é uma bifurcação pois a partir dela temos o Caminho Francês e o Caminho de Inverno. Sabíamos que o Caminho de Inverno acompanhava o rio Sil mas com a vontade de começar a andar nem nos lembramos disso, apenas surgiu a dúvida quando começamos a estranhar a quantidade de peregrinos que encontrávamos.
Aqui houve um erro técnico já que levávamos 2 gps, fora os telefones android com mapa mas não reconheceram a track nesta primeira parte.
Perguntamos mas poucos devem conhecer o Caminho de Inverno pois sempre nos diziam que estávamos certos. Quando encontramos um carro da protecção civil confirmaram as nossas suspeitas, ligamos para o resto dos colegas que iam à frente e continuavam a seguir as setas e quando todos regressaram fomos atrás do carro da PC que nos levou ao caminho pretendido. Tínhamos já feito mais de 20km e era quase meio-dia quando começamos o nosso caminho verdadeiro.
Encontrado, lá nos fomos dirigindo para o nosso primeiro ponto, o Castillo de Cornatell
(42°29'15.7"N; 6°41'35.2"W). O caminho original passa por ele pois era propriedade dos templários e eram eles que protegiam os peregrinos nesta região mas actualmente há quem o contorne em virtude da sua dificuldade. Apesar do atraso que já levávamos quisemos passar por ele e em boa hora o fizemos pois apesar da dificuldade da subida que implicou levar as bicicletas à mão o tempo todo, as sua visão no alto do penhasco é imponente, como o são as vistas que a subida nos vai proporcionando. Mais tarde viemos a saber que o jornal “El País” o designa como o segundo castelo mais bonito de Espanha.
Voltado ao caminho, passamos por Borrenes e lá fomos em direcção às las Médulas que foram umas minas romanas com uma exploração de técnica muito particular, entretanto começou a chuva e o frio, muito por causa da elevada altitude em que estávamos. Chegamos  encharcados e com imenso frio mas a sorte é que os colegas da carrinha de apoio conseguiram que o pessoal do pequeno estabelecimento que nos forneceu as bebidas nos deixassem utilizar o jardim coberto para comermos e evitar faze-lo à chuva e ao frio, algo que naquele momento nos pareceu o paraíso, estávamos a 811 m de altitude.
Secamo-nos como pudemos, aquecemos um pouco e comemos: sandes que íamos fazendo queijo, fiambre e presunto, empanadas, fruta, etc. Já retemperados voltamos à estrada mas já eram umas 16h e estávamos longe dos nosso objectivos.
Continuamos o nosso percurso maioritariamente por monte e seguindo as marcações, passamos por Puente Domingo Flórez que atravessamos sem parar,  sempre sem chuva mas com ela a ameaçar mas depois desta povoação tivemos  um ou outro aguaceiro mas chegamos à cidade de Barco debaixo de uma chuva intensa, eram cerca de 18h30m.
Aqui percebemos que devido ao mau inicio que tivemos e do estado do tempo que nos atrasava, iria ser difícil cumprir o programa. Apesar de apenas termos feito 58,4km da Caminho, devido ao erro já tínhamos pedalado  79,5km com um acumulado de subidas de 1.303m, por isso decidimos dormir nesta povoação mas era pequena e não conseguimos alojamento, surgiu então a ideia de colocar as bicicletas na carrinha e seguirmos de comboio para o nosso destino dessa noite. Na estação avisaram-nos que em Quiroga também iria ser difícil encontrar alojamento de forma que saímos em Monforte de Lemos, 78km depois.
Tomada a decisão tiramos as nossas coisas da carrinha pois tinham que viajar connosco, desmontamos as bicicletas e colocamo-las na carrinha em cerca de 30m, a contrastar com as 2h que nos levou a fazer o mesmo na Maia mas lá não tínhamos a motivação de um comboio quase a chegar.
O pessoal da carrinha chegou primeiro e conseguiu um hotel em frente da estação: Casa de Lemos, onde dormimos e jantamos. No fim de jantar alguns foram dar uma volta para ver a cidade e o magnifico palácio da Marquesa de Alba.
As bicicletas dormiram na carrinha que ficou estacionada em frente à porta do hotel.

Dia 2 - 25.04 -  as Subidas
 
Uma vez que no dia anterior tínhamos negociado o pequeno almoço para as 7h30 acabamos por sair uma hora depois, já que neste dia tínhamos já marcada a dormida em Lallin e não podíamos faltar.
Saímos do hotel e voltamos a passar em frente ao palácio, atravessamos a ponte romana sobre o rio Cabe mas antes tivemos um colega teve que enfaixar um joelhos que lhe doía, algo feito por um dos elementos da nossa equipe médica J, o Dr. Pedro.
Esta primeira parte do percurso foi maioritariamente por alcatrão e bastante acessível até ao momento que começamos a subir o monte que dava acesso ao vale do rio Miño, no entanto na parte de caminhos rurais encontramos algumas dificuldades devido ao muito que tinha chovido e tivemos mesmo que procurar uma alternativa porque aquele que pretendíamos estava intransitável.
Quando chegamos ao lugar da Portela começava uma descida para o rio por um caminho romano que foi um enorme desafio pois aliados à habitual dificuldade das lajes polidas, tínhamos a humidade do piso, cheio de musgo e a enorme inclinação, algo que ficou bem registado em vídeo e deu origem a umas quedas, felizmente sem consequências.
Chegados à ponte ainda cheios da adrenalina da descida, tínhamos uma subida enorme para fazer. Aqui houve duas opções, ou seguíamos o caminho original que era sempre em frente e obrigava a levar a bicicleta à mão devido á sua inclinação, ou seguíamos pela estrada, e andávamos 10x mais, pois ele serpenteava pelo monte acima, mas íamos na bicicleta. No inicio houve clientes para as duas soluções mas rapidamente todos optaram pela estrada, já que o caminho a atravessava em vários pontos.
Nesta altura fomos alvo de uma reportagem por um canal local, tv20, que ficaram curiosos por verem um grupo tão grande e quiseram saber o que estávamos a fazer.

No fim da enorme subida tivemos  a compensação de ver a carrinha de apoio parada que nos permitiu recuperar algumas forças, curiosamente o local escolhido será futuramente um albergue, propriedade de um casal holandês e que já estava em obras.
Depois de almoçar ainda tínhamos um obstáculo temível, a subida ao monte Faro, por isso não demoramos muito, protegemo-nos melhor para o frio que começava e que ia aumentar á medida que subíamos mas paramos mais à frente em Chantada para tomar um café..
Ao fim de uns quilómetros e a meio da subida encontramos uma povoação com um café que aproveitamos para nos aquecer um pouco e onde nos aconselharam a seguir a estrada até ao cimo do monte já que o caminho, em virtude da chuva, estava em mau estado e foi isso que fizemos embora tenha continuado a ser um percurso exigente devido à elevação que tivemos que vencer e que nos permitiu estar ao lado de torres eólicas e ouvir o barulho que fazem, ajudando a perceber as razões de alguns litígios que têm surgido.
A seguir foi descer até Rodeiro onde estava a carrinha a ver se alguém necessitava de ser levado, algo que não aconteceu aí mas uns quilómetros mais à frente pois a exigências das subidas deste segundo dia deixaram algumas marcas.
O hotel que tínhamos como destino, Torre Danza, já era nosso conhecido do ano passado aquando do Caminho Sanabrês, mas quisemo-lo repetir porque é muito confortável, com quartos espaçosos, garagens fechadas para as bicicletas e um jantar buffet variado, tudo aquilo que precisávamos depois de um dia tão exigente. Chegamos pelas 19h e marcamos encontro para jantar pelas 21h. Tínhamos andado 81,7 km com um acumulado de subidas de 1.923m, estando o ponto mais alto a 1.113m de altitude.

Depois de jantar e apesar da chuva que caia quisemos desta vez visitar o ayuntamento local, obra da dupla de arquitectos Luis Mansilla e Emilio Tuñón. Já no ano passado o nosso conselheiro para essa área nos tinha falado mas não a fizemos e desta vez não podia falhar. Chamamos um táxi que ficou surpreendido pela nossa intenção e ainda por cima com tanta chuva mas lá fomos ver o edifício inspirado numa Vila Celta que é realmente original e naturalmente apenas o podemos apreciar do exterior.
Regressados ao hotel ainda tomamos uma bebida com o grupo e depois foi dormir.


 Dia 3 – 26.04 - Caminho Francês 

Tomámos o pequeno almoço e antes das 9h estávamos a pedalar pois embora o percurso deste dia não apresentasse dificuldades de maior, uma parte foi desenhado por nós.
Oficialmente o Caminho de Inverno termina aqui e a partir de Laxe é Caminho Sanabrês que já o tínhamos feito no ano passado, assim resolvemos fazer uma ligação de Laxe a Calle e aí seguir pelo Caminho Francês. Saímos do hotel e fomos em direcção a Laxe, por Vila de Cruces, Barragem de Portodemouros, onde nos encontramos com a carrinha e depois em Calle, já no caminho Francês e onde almoçamos.
Este percurso não teve dificuldades de maior e chegados ao caminho Francês permitiu ver a diferença que já nos tínhamos apercebido no primeiro dia, ele é diariamente percorrido por milhares de pessoas. Ao contrário do Caminho de Inverno onde não tínhamos encontrado nenhum outro peregrino, no Francês a dificuldade é o elevado numero de pessoas que existem, no entanto tem zonas realmente bonitas e desta vez entramos em Santiago pelo monte Gozo ainda relativamente cedo e onde já tínhamos uma comissão de boas vindas.
Chegados à Plaza de Obredoiro que é onde terminam sempre os
Caminhos, tínhamos percorrido 67,2 km e subido um acumulado de 1.402m, mas tínhamos mais uma vez cumprido com os nossos objectivos.
Depois da comemoração da chegada e das fotos em frente à Catedral fomos para os alojamentos mais uma vez no Seminário Mayor, onde também nos guardam as bicicletas.
Pelas 20h reunimo-nos para jantar e depois demos um passeio pela noite de Santiago e tomar um copo, já que no dia seguinte não era necessário levantar tão cedo. 

Dia 4 - 27 - Santiago e Regresso 

Como habitualmente neste dia chegam as famílias que nos vieram buscar, aproveitando o autocarro que nos levará e que sai da Maia pelas 7h para estar em Santiago pelas 10h, hora espanhola. Chegado o autocarro marca-se o encontro para o almoço de convívio pelas 13h, onde nos reunimos todos e por volta das 17h regressamos à Maia.


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